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Porcentagem de idosos mais que dobra no Brasil em 50 anos

12/09/2012


Nos últimos 50 anos, a população brasileira quase triplicou: aumentou de 70 milhões de pessoas em 1960, para 190,7 milhões em 2010. O aumento do número de idosos, no entanto, foi maior ainda. Em 1960, havia 3,3 milhões de brasileiros com 60 anos ou mais e estes representavam 4,7% da população. Em 2000, 14,5 milhões (8,5% dos brasileiros) estavam nessa faixa etária. Nos últimos dez anos o salto foi grande, e em 2010 este número passou para 10,8% da população (20,5 milhões de pessoas). A comparação feita se baseia nos censos demográficos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 1960, de 2000 e de 2010.

O envelhecimento da população é uma tendência tão forte que até os critérios do IBGE tiveram que mudar. Em 1960 todas as pessoas com 70 anos ou mais eram inseridas na mesma categoria. Já nas pirâmides etárias de 2000 e 2010, as faixas etárias foram separadas a partir dos 70 anos de cinco em cinco anos até os 100.

“O Brasil ainda é um país com a maior parte da população jovem, ainda temos alto percentual de jovens no mercado de trabalho, mas temos que nos preparar para o envelhecimento da população, principalmente em relação à pressão sobre a Previdência. Entre as iniciativas válidas está a de apoiar a implantação de recursos com Previdência complementar.

“Precisamos pensar e criar mecanismos que façam com que o sistema seja mais sustentável”, afirma Bárbara Cobo, pesquisadora de indicadores sociais do IBGE.

Ana Amélia Camarano, do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), concorda. “O país está se preparando para este cenário futuro, mas ainda há muito para ser feito”, diz ela.

Há pouco tempo, o Congresso aprovou um novo fundo complementar para o servidor público federal visando a redução do déficit da Previdência. O projeto ainda necessita da sanção da presidente Dilma Rousseff. Há outro projeto em discussão no Congresso para mudar o fator previdenciário, instrumento que visa reduzir o valor do benefício de quem se aposenta antes dos 65 anos, no caso de homens, ou 60, no caso das mulheres. Esse projeto pode deixar os gastos do governo maiores e, por causa disso, uma proposta que extinguiu o fator foi vetada no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo Bárbara, a maior parte da população idosa do país está concentrada próxima a centros urbanos. “São regiões com maior disponibilidade de serviços médicos de qualidade e também uma rede social com atividades de lazer, culturais e religiosas que geram um maior envolvimento dessa faixa etária na sociedade”, diz.

Um dos fatores que indicam esta mudança na pirâmide etária é a diminuição da taxa de fecundidade, publicada no dia 27 de abril, além de outros dados do Censo Demográfico 2010. A queda está fazendo com que o gráfico que separa os habitantes por idade fique cada vez menos triangular. Censo após censo, ele fica mais volumoso na parte central, que representa a população em idade adulta, e começa a diminuir na base, onde ficam as pessoas mais novas.

“O envelhecimento da população é uma tendência e grande parte dos países desenvolvidos já chegou nessa etapa, decorrentes do maior desenvolvimento social e do aumento da expectativa de vida. Isso é resultado do avanço da medicina, de melhorias no saneamento das cidades, da diminuição da taxa de fecundidade, dentre outros fatores”, afirma Bárbara Cobo, do IBGE.

Em 2010 no Brasil, cada mulher tinha em média 1,9 filho. Foi a primeira vez que o número foi inferior ao chamado nível de reposição – 2,1 por mulher –, que garante a reposição das gerações. Em outras palavras, a manutenção dessa tendência deve provocar a redução da população do Brasil nos próximos anos.

O número caiu 20,1% durante a última década. Em 2000, cada mulher tinha em média 2,38 filhos. Há 50 anos, a taxa de fecundidade era de 6,3 filhos por mulher – mais que o triplo do número atual.

“Nos próximos 30, 40 anos, essa tendência de envelhecimento da população no Brasil é praticamente irreversível, a menos que a fecundidade volte a aumentar, e muito”, conclui a pesquisadora Ana Amélia Camarano, do Ipea. “Isso acontece pois a taxa de fecundidade caiu muito desde os anos 90 e a taxa de mortalidade nas idades avançadas também caiu”, diz ela.

“Alguns países com aumento da população idosa começaram a criar políticas públicas de incentivo para as mulheres terem mais filhos. O ideal, para repor a população do país, seria que cada mulher tivesse 2 filhos”, afirma Bárbara.

Dados
Mesmo com o crescimento absoluto de mais de 20 milhões de pessoas entre os anos de 2000 e 2010, a quantidade de crianças diminuiu. Em 2000, 32,9 milhões de pessoas no Brasil tinham menos de 10 anos; em 2010 este número caiu para 28,7 milhões.

Dentre as faixas etárias separadas pelo IBGE, a maior delas em 2010 era a que fica entre os 20 e 24 anos – 17,2 milhões (9%) de pessoas têm essas idades. Em 2000, a maior concentração era na faixa etária imediatamente abaixo – 17,9 milhões (10,6%) tinham entre 15 e 19 anos. Há 50 anos, as crianças pequenas eram a parcela mais expressiva da população – 11,1 milhões (15,8%) tinham entre 0 e 4 anos.

Mães mais velhas
Com os novos padrões, os hábitos também mudam. Os números divulgados mostram que a tendência é que as mulheres tenham filhos cada vez mais tarde. Em 10 anos, aumentou a porcentagem de mulheres que se tornaram mães depois dos 30 anos. Em 2000, elas representavam 27,6% do total; em 2010, já eram 31,3%.

Ao mesmo tempo, houve queda entre as mais novas. Os grupos de 15 a 19 anos e de 20 a 24 anos de idade, que tinham respectivamente 18,8% e 29,3% das mães em 2000, passaram a concentrar 17,7% e 27,0% do total no ano de 2010.

Para Bárbara Cobo, o fato de as mulheres deixarem para ter filhos mais velhas não tem relação direta com o aumento da população de idosos.

“Não acho que a mulher pensa que, já que as pessoas estão vivendo mais, vou deixar para ter filhos mais tarde. A tendência é proveniente do avanço da mulher no mercado de trabalho e da implementação de métodos anticoncepcionais desde a década de 70, que muitas vezes gera uma mudança de comportamento da mulher, que se preocupa em consolidar uma carreira estável primeiro.”

Fonte: G1 | Globo.com